segunda-feira, 24 de junho de 2019

"MORTE E VIDA SEVERINA", de João Cabral de Melo Neto (#6)




"Morte e vida severina" é uma obra de João Cabral de Melo Neto do gênero peça de teatro em versos, poema dramático. Também, poema de natal pernambucano.  O espaço onde ocorre o enredo é da Caatinga para Recife, Pernambuco, na segunda metade do século XX. A obra foi produzida na Terceira Geracão do Modernismo de 45.

O autor é conhecido por ser um poeta antissentimental (ausência do lírico, apagamento do "Eu"), antimusical, poeta racional (se intitula "o engenheiro", faz cálculos literários).

João Cabral é conhecido pelos versos substantivos (substantivo predominante, como "pedra", inanimada).

A obra trata-se de uma crítica social não-panfletária (não Socialista, sem bases marxistas, embora musicado por Chico Buarque).

A peça é dividida em 18 cenas, estas subdividem-se em duas partes: da 1a até a 12a - ocorre a fuga do Severino (morte); da 13a ao final - Severino chega em Recife (vida).

Cena 1 - Severino se apresenta, somos são "severinos".
Cena 2 - a morte por emboscada.
Cena 3 - a morte da natureza, o Rio-guia (Capibaribe) seca.
Cena 4 - velório.
Cena 5 - pausa para arrumar um trabalho.
Cena 6 - conversa com rezadeira, que diz que só tem trabalho quem trabalha com os ofícios da morte.
Cena 7 - Severino chega à Zona da Mata, vê vegetação, mas sem pessoas, acha que estariam descansando.
Cena 8 - pessoas estão no funeral de um Lavrador. Música de Chico Buarque: "É a parte que te cabe deste latifúndio".
Cena 9 - esperanças morrendo.
Cena 10 - chegada em Recife, ouve dois coveiros no cemitério falando sobre a morte na cidade.
Cena 11 - a descoberta de Severino do próprio enterro, pensa em suicídio.
Cena 12 - diálogo com Mestre Carpina, Seu José.
Cena 13 - anúncio do nascimento, filho do Mestre Carpina.
Cena 14 - visitas ao nascido.
Cena 15 - criança recebe presentes simples (Reis Magos).
Cena 16 - as ciganas fazem previsões de trabalho para Severino. Loas - louvor a vida da criança.
Cena 18 - exaltação à vida - Mestre Carpina mostra o filho, Severino entende que a vida vale a pena, desiste do suicídio.

Características:
Peça escrita em 1954 e encenada em 1965. Música Chico Buarque, venceu o Festival de Nancy, na França.

Temática social - seca, fome, exclusão social, invisibilidade do nordestino.

Visão de esperança relativizada.

O Auto - referência às peças de teatro medieval, tradição ibérica, espanhola, portuguesa.

Auto dentro do Auto (peça dentro da peça) - estrela-guia: rio-guia, pastores: Severinos, Mestre Carpina: São José, Mocambo: Presépio.

Rehional x Universal - não poema religioso, inspiração na Kiteratura de Cordel. 

Poema de exceção (fácil, musicado).

Composição poética: 1241 versos heptassílabos, maioria redondilha maior (cadência popular).

Severino (substantivo próprio) torna-se substantivo comum (Severinos coletivo), depois adjetivo: vida severa, repleta de restrições.

Especial da Globo exibido em 1981.


" 'Funeral de um lavrador'
(Chico Buarque)

Essa cova em que estás
Com palmos medida
É a cota menor
Que tiraste em vida

É de bom tamanho
Nem largo
Nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio

Não é cova grande
É cova medida
É a terra que querias ver dividida

É uma cova grande
Para teu pouco defunto
Mas estarás maus ancho
Que estavas no mundo

É uma cova grande
Para teu defunto parco
Porém mais que no mundo
Te sentirás largo

É uma couva grande
Para tua carne pouca
Mas a terra dada
Não se abre a boca

É a parte que te cabe neste latifúndio
É a terra que querias ver dividida."



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