quarta-feira, 25 de setembro de 2019

"LUZ E SOMBRA", original de Maria José Dupré



Que satisfação falar sobre obras de Maria José Dupré, a Sra. Leandro Dupré. Emociono-me!

Desde criança, devoro os livros da Sra. Dupré. Ouso dizer que, provavelmente, seja minha autora predileta. Quiçá, tenha sido ela que me enveredou para a área das leituras, com as obras da Coleção Vagalume.

Recordo-me, com o prazer inerente às atividades imaginativas e criativas que perduram no tempo, de que, com o meu irmão de elenco único, costumava performar teatralmente as obras.

Hoje, me deparei com a Série "Luz e Sombra", baseado no romance da escritora Maria José Dupré, com adaptação de Adriana Lisboa, Wagner Sampaio e Dimas Oliveira Junior.

De acordo com a publicação no canal do Youtube de Dimas Oliveira Junior, de 24/09/19, divodida em 9 capítulos, "Luz e Sombra" conta a história de uma família da nobreza tradicional de barões do café do século XIX, vivendo os momentos finais da escravidão no Brasil, seus reflexos e conflitos familiares.

Episódio I

Cidade, ainda Província, de São Paulo, em 1903, em um cômodo vazio de casarão da época, vestida de preto, xx caminha pensativa.

Província de São Paulo, 1887.

Maria Letícia, censurada pela mãe, casou-se com Fernão em conformidade com as tradições patriarcais da época, mas, mais contumazmente, em rivalidade com a irmã, interessada no cadidato, Francisca Michelina.

Triste e arredia, como observado pela mãe e irmãs, Michelina, com violetas nos cabelos, dizia que não era feliz e vaticinava que Maria Letícia, também, não o seria.

Episódio II

Colheira próspera de café, Fernão, direito, 

Matriarca Maria Letícia, solicita à Mãe, que os pais cedessem os escravos Modesta e Benedito para servi-la em sua nova casa. Convida a irmã Rosa para passar uns dias em seu novo lar, que aceita a contragosto por anuência da Mãe.

Escravas lavam roupa à beira do rio, falando do cativeiro do trabalho escravo, das crueldades do Feitor, supervisionadas pelo próprio.

Lamentam as dores da vida com cantigas em língua materna africana.

Feitor Joaquim e Frederico cobiçam a escrava Salustiana. O Feitor tenta abusar da moça às margens do rio. Ela foge.

Maria Letícia e Fernão falam, num cenário bucólico, da felicidade das núpcias. Letícia cita versos de Fernando Pessoa.

Novos escravos chegam da Bahia, batucam suas danças originárias.

Episódio III

Paço Municipal de São Cristovão, Rio de Janeiro, 1888

Na Capital do Brasil, Sr. Xx conversa com Princesa Izabel sobre a abolição da escravatura.

Princesa Izabel refere que a construção do Brasil é triburária à "raça" negra.

Trata da necessidade da renúncia do usufruto dos negros que considera, injustamente, infelizes.

Salustiana mostra-se com espírito de liderança e entre os negros. Feitor Joaquim tenta atacá-la novamente.

Escravos tratando mal um ao outro, numa cadeia de opressão entre eles mesmos.

Irmãs Maria Letícia e Mana Rosa conversam. Escrava Zaila noticia que Escrava Inocência cuspiu dentro dos barris de água.

Episódio IV

Maria Letícia ordena ao Feitor Joaquim que castigue Inocência severamente pelo ocorrido.

Rosa ressalva que Inocência é doente, sofre de ataques, que não seria prudente cartigá-la com sova, sugere que a enviem a Santarém. Maria Letícia não muda de ideia.

Inocência é açoitada. Grita clemência a Sinhá Letícia, bradando ser branca.

Inocência morre.

Fernão questiona Maria Letícia, diz teria sido melhor não castigá-la pelo tronco. Sinhá Letícia não cede.

Os escravos veem Inocência morta no tronco. Levam-na para enterrá-la sob cantos africanos.

Fernão, Letícia e Rosa comentam a morte de Inocência pela sova de chibata.

Fernão considera o episódio desnecessário e desagradável. Rosa, apesar de ter discordado da irmã, a consola diante do erro.

Episódio V

Os escravos preparam o enterro de Inocência.

As mulheres lamentam, mas não se mostram arrependidas de rerem denunciado Inocência. Os homens choram em silêncio.

Fernão fala a Maria Letícia sobre a notícua dada por Alberto pela abertura de um inquérito pela acusação de assassinato da escrava ordenada pela Sinhá. 

Comentam sobre quem teria feito a denúncia, possibilidade de ser um abolicionista.

Fernão questiona as ordens ao Feitor Joaquim, que fala a verdade, contrariando as justificativas de Letícia de que não teria intenção de que o castigo fosse tão grave como contou ao marido.

Letícia e Rosa conversam sobre o escândalo. Letícia lamenta o ocorrido por ver o marido sofrer por haver o inquérito. Rosa lembra a irmã de seu orgulho de não ter voltado atrás.

Província de Sã Paulo, fevereiro de 1888

Senhores e clero conversam sobre a lavoura. Padre fala do aumento produção de café para o ano seguinte, enquanto alguns acreditam ser o cultivo de algodão mais próspero.

A abolição é citada como fator importante no sucesso da agricultura.

Mesmo os abolicionistas não querem o fim da escravidão para o momento. Tratam da possibilidade de substituição da mão de obra escrava pela do imigrante.

Episódio VI

Na casa grande, Maria Letícia e Rosa lembram de fugas e invasão de escravos e os perigos que traziam à propriedade.

Letícia empunha uma espingarda e enfrenta os invasores ao lado de fora do casarão, acompanhada dos escravos da casa, temerosos.

Os escravos invasores se apresentam dizendo que querem apenas comer. Em princípio, Sinhá Letícia não acredita, mas dá alimento aos homens. Ela chora.

Dias depois, chega o noivado de Francisca Miquelina, que lamenta não poder se casar com homem que não ama, nem escolheu.

O casamento de Miquelina e Rodolfo acontece. A noiva chora e o evento é sombrio, mais se parece um funeral do que dara celebrativa.

O Feitor persegue Salustiana na mata e a estupra. Salustiana demonstra ter gostado e, ao final, chuta-o, indo banhar-se nua na cachoeira.

Barão Félix e Baronesa ficam sabendo do inquérito, questionando quem teria feito a denúncia.

Episódio VII

Senhora Barosa amiga visita a família. Fala da denúncia contra Maria Letícia. Entende que a família não merece sofrer um inquérito. Acredita que abolicionistas sejam os delatores do ocorrido. 

Rosa lembra que o ano de 1888 foi de muitas lutas.

Barão Félix assedia as escravas. Salustiana, companheira de Benedito, é atacada novamente.

Rosa reflete sobre o casamento de Miquelina e a infelicidade no casamento.

Miquelina revela à escrava que Letícia merece a investigação por ser orgulhosa.

Rodolfo, esposo de Francisca Miquelina, avalia os escravos para compra, com auxílio de outro negro.

Rodolfo é um marido opressor, maltrata e agredia Miquelina e a proíbe de sair de casa. Levava uma vida dupla entre o casamento e a homossexualidade.

Na cachoeira, Benedito refresca-se nu. Rodolfo aparece e há um envolvimento sexual entre os dois, na qual a dominância hierárquica se inverte.

Episódio VIII

Fernão conversa é avisado sobre a abolição da escratura de iniciativa da Princesa Izabel. Letícia consola o marido.

Entre as mulheres, à mesa, o clima é de tristeza devido a denúncia do assassinato de Inocência e a proximidade do final da escravidão.

Os Senhores dizem que a escrava teria morrido por razão diversa do açoite.

A família preocupa-se a respeito do delator de Maria Letícia, consideram-no traidor, quem quer que fosse.

Aos 13 de maio de 1888, Princesa Regente Izabel assina a Lei da Abolição da Escravatura - Lei Áurea, no Paço Imperial do Rio de Janeiro.

Os escravos e abolicionistas comemoram a liberdade.

Episódio IX - final

Rosa lê no jornal amassado sobre a extinção da escravidão.

Maria Letícia e Rosa observam a saída dos escravos livres.

Escrava Zabé pragueja contra os escravos que foram embora.

Fernão sente-se derrocado. Letícia diz que é a vida que se modifica e o mundo que caminha.

Rosa observa a retirada dos escravos, lembra que Inocência jaz em descanso.

Maria Letícia dá a luz à uma criança de nome Inocência, e morre após e em decorrência do parto. Ainda agonizante, pede que Rosa cuide da menina.

Embora tenha sido declarada inocente, Sinhá Letícia não resistiu ao julfamento moral da sociedade.

Em 1903, Rosa, na posição de narradora-personagem, reflete sobre a dualidade da vidade Alegria e tristeza. Subida e descida. Felicidade e desventura. Luz e sombra. Fim.



Créditos de Artes todas, rendidas homenagens:

Adaptação Dimas de Oliveira Junior
Roteiro Adri Lisboa e Wagner Sampaio

Elenco:
Fran Elmor (Maria Letícia)
Théo Hoffmann (Fernão)
Júlia Costa (Rosa)
Roni Andrade (Joaquim)
Thais Vellasques (Baronesa)
Lixa Palosa (Mamã Zabel)
Carol Ghirardelli (Leopoldina)
Hellen Kazan (Francisca Miquelina)
Rafael Custódio (Rodolfo)
Alcione Weizmann (Princesa Isabel)
Lucia Cavalheiro (Salustiana)
Cici Antunes (Modesta)
Antonio Eduardo Marques (Barão)
Jefferson Moraes (Benedito)
Devalci Freitas (José)
Wesley Alves (Félix)
Luiz Rodriguez (Joaquim Nabuco)
Higor Gabriel (Luiz)
Jean Diego Visconti (Conde D'Eu)
Rafael Bacelar (Padre João)
Luana Dias (Inocência)
Jairo Silva (Berico)
Nicoly de Sá (Zaila)
Maelly Orion (Chica)
Maycon Clinton Silcha (Escravo 1)
Renan Muramda (Escravo 2)
Bruno Silveira (Escravo 3)
Claudia Savastano (Baronesa de Lessa)
Luiz Silvestre (Capitão do Mato)
Felipe Chevalier (Epaminondas)
Tati Scaglioni (Eponina)
Pablo Oliveira (Lourenço)
Gustavo Spina Vargas (Ministro Cotegipe)
Andrei Scafi de Vasconcelos (Souza Dantas)
Igor Lazarini (André Rebouças)
Fábio Tavares (Feitor)
Mauricio Reti (Dr. Maranhão)
Emerson Davi (Teonito)
Ricardo Ferrianci (Escravo Fugitivo)
Cintia Silva (Dama 1)
Dedé Duarte (Dama 2)
Itamara Bueno (Dama 3)
Luis Fernando Generoso (Zé do Congo)
Nathalia Cabral (Jeronima)
Hyago Gomes Silva (Escravo Criança 1)
Renan William (Escravo Criança 2)
Yasmin Moura (Escrava Alforria 1)
Adriane Mattos (Escrava Alforria 2)
Ana Cláudia Silva (Escrava Alforria 3)
Jéssica Ellen (Escrava Alforria 4)
Manoel Lima (Juiz)
So-lor Tyheran (Jurado 1)
Bruno Nabuco (Jurado 2)
Rafael Grisoste (Jurado 3)
Elysiario Strada (Jurado 4)
Bruno Secco (Jurado 5)
Weverton Philliph (Jurado 6)
Pietra (bebê Inocência)

Participação Especial:
Bruno Pacheco (Dr. Pyraja)

Produção:
Felipe Chevalier
Natália Endo
Tony Xavier

Produção Executiva:
Julia Costa

Direção de Fotografia:
Sou Vini

Câmera:
Tony Xavier

Edição e Finalização:
Douglas Jefferson

Direção de Arte:
Dimas de Oliveira Junior e coletivo

Assistência de Direção:
Roni Andrade
Bruno Pacheco

Casting:
Dimas de Oliveira Junior
Luan Sávio

Elenco de Apoio:
Vera Generoso

Caracterização Visual:
Lucia Cavalheiro
Luana Dias

Trilha Sonora Oficial:
"Banzo", Rafael Peretta, Leando Poletti, Max Cleber

Trilha Acidental:
"A Truta" ("Die Forelle"), Schubert
"Valsa Minuto", Chopin
"Saudade", Cícero Euclides
"Clarinet Concerto in A K. 622, II, Adagio,", Mozart
"Coppélia", Act I : 4. Mazurka - Saint Petesburg Radio and TV Symphony Orchestra
"Symphony No. 7 in A Major op. 92 - Alegretto", Beethoven
"Moonlight Sonata" - 1st Movement, Beethoven
"Before Dawn", de Audionautix
"Love Harvest", Kevin MacLead
"King's Men", Biz Baz Studio
"Tribal Affair", SYBS


Oficina de Arte Rosina Pagan


Opremido quer ser opressor.
Sra sao bons pra eles. Malvadeza por sermais vvranca. Tronco. 
Escravos intervém pedindo que Zabé convença a desistir, sem sucesso, Saluatiana concotda.




Análise crítica
Por Fiametta Franchin

Com tantos fatores intensos sobre história, nacionalidade, patriotismo, brasilidade, discussão étnicas, identidade nacional, humanismo e humanidade, assisti à série num só fôlego. 

A despeito das questões muito repisadas sobre a escravidão no Brasil, o olhar não maniqueísta sobre o ser humano foi o mais assolador durante todo a série.

Tal como o título, toda a obra foi perpassada pela dualidade intrínseca a todas as coisas.

Ao contrário da visão polarizada do bem versus o mal, vemos a humanidade das pessoas oscilantes entre atos bons e atos maus.

Recordei-me de um Professor que, certa vez, revelou a inexistência de um todo bem ou todo mal. Que a pessoa humama, toda ela, apresenta tendências para a prática de bons ou maus atos, sem que seja possível classoficá-la em um ou outro rótulo e encerrá-la de per si.

Todas as personagens demonstram suas inclinações para a prática do bem e do mal. Não há vilões, nem mocinhos, estabelecidos.

Maria Letícia, aparentemente, a vilã do enredo, responsável pela morte da escrava Inocência, possui atos de compaixão, coragem, bravura generosidade, arrependimento, em última instância, de bondade.


Fernão