quinta-feira, 10 de outubro de 2019

"CUMBE", Marcelo D'Salete



"Cumbe", de Marcelo D'Salete é uma obra de quadrinho que trata da revolta dos escravos no Brasil.

A palavra "cumbe" significa quilombo, mas, tambén, sol, dia, luz, energia que irradia da revolta.

O próprio título revela a pulsão radiante dos escravos revoltosos, ainda que a sociedade da época os mantém silenciados.

O autor fez pesquisa sobre a etnia Bantu, em especial sua cultura, linguagem, música etc., para contextualizar o enredo.

Desse modo, há, na obra, dados históricos, como o sumidouro.

Os quadrinhos são em preto e branco. É uma outra dualidade da obra, bem como retrata a ausência de cor, ausência de dignidade, humanização dos escravos.

De modo geral, aborda a violência, desumanização dos escravos.

O silêncio dos quadrinhos em que não há texto, apenas imagem, é um recurso linguístico muito utilizado nos quadrinhos. Pode fazer referência ao silenciamento dessas pessoas oprimidas.

A ausência de som grita.

Assim como há o lado sombrio decorrente da crueldade que sofrem os escravos, o narrador traz a noção oposta de esperança.


Apresenta-se o desejo de liberdade dos escravos, suas vontades de reagir contra o status que vivem e não viverem passivamente diante da condição de vida aviltante.

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"A ASSOMBRAÇÃO DA CASA DA COLINA", Shirley Jackson



"A Assombração da Casa da Colina", de Shirley Jackson, do gênero gótico, com características de emulação de um romance vitoriano.

O tema é o suicídio da protagonista, de enredo simples, do clássico sobre casa mal assombrada.

Um parapsicólogo, Dr. Montague, busca informações para sua pesquisa sobre fenômenos sobrenaturais, até que toma conhecimento da casa da colina.

Os proprietários da casa permitem que ele a utilize para seus estudos, cujo objetivo era levar pessoas com poderes paranormais para passar a noite na casa e observar o que ocorre.

Os donos da casa autorizam a pesquisa, desde que uma das pessoas escolhidas para a experiência seja o herdeiro da casa, Luke.

Luke é um rapaz desocupado, que vive esperando a herança. 

As demais pessoas são chamadas via cartas. Das pessoas que recebem as cartas, apenas duas respondem a correspondência, Theodora, uma artista decadente e Eleonor, a protagonista.

Eleonor viveu a infância com a irmã e a mãe, numa casa onde aconteciam coisas não explicadas. Culpa-se pela morte da mãe. Leva uma vida desinteressante, mora no porão da casa da irmã. Sua vida muda a partir do convite do cientista.

A casa era abandonada, apenas os caseiros a frequentavam durante o dia.

Conta o livro que a casa não tinha sanidade, desabitada há 80 anos e era conhecida como mal assombrada.

Eleonor é a primeira que chega à casa, seguida por Theodora.

O enredo circunda as patologias mentais  de Eleonor, que são reveladas pela própria permanência dela na casa.

A personagem é altamente sugestionável e o ambiente propício faz emergir suas neuroses e psicoses.

Os moradores da casa passam a preocupar-se com o estado psicológico de Eleonor.

Há traços de esquizofrenia de Eleonor, desenvolve relação de dependência e interesse afetivo a Theodora.

Começam fenômenos anormais direcionados à Eleonor, que vai desenvolvendo um sentimento de pertencimento a casa, ao mesmo tempo que planeja suicídio.

A esposa do cientista, também paranormal, chega à casa. Todos concluem que a casa estava fazendo mal à Eleonor e que ela deve deixar a casa.

Eleonor vive um luto pela despedida da casa. Ao deixar a casa, segue dirigindo e bate em uma árvore e morre.

Não fica claro se a casa apresenta fenômenos paranormais ou se é uma cada comum, com ruídos normais decorrentes de estrutura mesmo e Eleonor vê as coisas autosugestionada, pois a história é contada a partir da ótica dela.

O tema do suicídio o funcionamento - doentio, desvirtuado - da cabeça do suicida é uma reflexão importante que se infere da obra.

Por fim, vale ressaltar que a casa, também, pode ser considerada personagem protagonista, dada sua organicidade, relevância na condição psicológica de Eleonor.


quarta-feira, 9 de outubro de 2019

"A SOCIEDADE DO CANSAÇO", Byung-Chul Han



"A sociedade do cansaço", de Byung-Chul Han, filósofo sulcoreano, é uma obra que transita em áreas diversas do conhecimento.

O autor considera a atual sociedade cansada, convidando o leitor à refletir sobre a sociedade moderna e sua lógica de funcionamento que chama de imunológica.

A referência à terminologia das Ciências Biológicas é utilizada para justificar o comportamento da sociedade atual enquanto repele o outro, como sendo algo que oferece risco, perigo.

Assim, devido os riscos da nocividade do outro, passamos a nos socorrer de recursos que nos faça vevitar o que vem do outro.

Trata do excesso de positividade, ao discorrer o entendimento das pessoas que acreditam poder tudo.

Em contrapartida às proibições estudadas pela psicanálise, o excesso de positividade atual é maléfico, ideia ilusória, perniciosa.

As situações da vida não dependem somente do esforço pessoal, mas de variáveis que não controlamos. Assim, desde que haja uma busca incessante pelo que se considera sucesso, haverá frustração, dado que nem todos alcançaram seus objetivos.

Trata do processo de pasteurização das maneiras de desenvolvimento das pessoas, sem que usufruam do momento de contemplação,   apagando a individualidade.

A contemporaneidade, que repudia o tempo do tédio, deixa de refletir sobre si, sobre a nossa existência.

Questiona se os nossos sonhos são, mesmos, os nossos ou não nos seriam impostos pelas interações amplas que a tecnologia avançada permite.

A obra dialoga com clássicos como Freud, Foucault, Marx, Nietzche.

Culto do corpo na contemporaneidade implica em certa aniquilação do indivíduo como ser pensante, do nosso lugar no mundo.

Não se sabe mais se escolhemos nossos caminhos ou somos escolhidos sem muito poser de negociar.

As oatologias psicossomáticas da atualidade seriam consequência dessa extrema produção, otimização, positividade.

Entende que a celebração da arte, de ver e enxergar o inútil, pode ser caminho da sobrevivência do homem pensante, consciente da sua condição.

Aborda a dificuldade em namão ser reativo o tempo todo, pela quantidade insana de estímulos que não pernite algo como o "ócio criativo", não ha muita margem para nao sermos reféns do que vivemos.

Parece-me que emerge uma contradição a partir da overdose de informações, a qual, justamente, acaba por deixar o campo fértil que frutifica a própria criatividade vai se esgostando, exaurindo-se, levando ao efeito contrário ao esperado.

Nessas discussões, surgem as patologias da mente contemporâneas, como Síndrome de Burnout, hiperatividade etc.