sábado, 20 de julho de 2019

"VIDAS SECAS", Graciliano Ramos



"Vidas Secas" é uma obra do gênero literário novela, de capítulos desmontáveis, fragmentados, estilo de época 2a. Geração Modernista na prosa, romance de 30 (prosadores nordestinos), cujo enredo ocorre no sertão nordestino de Alagoas, estado natal do autor Graciliano Ramos, e o tempo é o início do século XX.

O narrador é em terceira pessoa, perscruta a psiquê das personagens, seus mundos interiores.

Capítulo 1 - "Mudança".
O leitor é apresentado à família de retirantes, que é o núcleo da narrativa formada pelo vaqueiro Fabiano, sua esposa Sinhá Vitória, os filhos menino mais velho e o menino mais novo (despersonalização, não têm nomes), a cachorra Baleia e o papagaio.
Fabiano vê a criança caindo de fome, em impulso animalizado pensa em puxar o facão e matar a criança, mas apenas bate com a prancha (lateral) do facão para o menino levantar-se.
O vocabulário do papagaio é reduzido, porque, embora reproduza a voz das pessoas, a família pouco fala e o papagaio só grunhe, assim como os humanos, que latem como Baleia.
O papagaio morreu e eles disputam os pedaços para comer.

Capírulo 2 - "Fabiano".
Família chega numa fazenda que acreditam abandonada, mas aparece o dono da fazenda, que pretende escurraçá-los do local, Fabiano pede para ficarem e trabalhar ali arrendando a terra (aluguel), e o fazendeiro aceita que eles trabalhem para pagar o arrendamento.
Fabiano apresenta vocabulário reduzido, muitas vezes, só grunhe ou produz ononatopeias, como animais. Inveja o Seu Tomás da Bolandeira, pela sua educação, possui cama de couro, ao contrário da família de rerirantes que dorme em trapos no chão. Fabiano se sente um bicho, um animal.

Capítulo 3 - "Cadeia".
Fabiano faz umas contas para Sinhá Vitória para fazer umas despesas e ele vai para a cidade. Lá, sente-se inferiorizado, inadaptado, humilhado.
Vai até a venda tomar cachaça, o Soldado Amarelo (autoridade governo) chama-o para jogar cartas. Fabiano não quer, mas teme a recusa, joga e perde o dinheiro das contas do mês, causando um desentendimento. Sai da mesa resmungando. O Soldado fica ofendido, pisa no pé de Fabiano, que é preso e espancado. Ele passa uma noite na cadeia.

Capítulo 4 - "Sinhá Vitória".
Sinhá Vitória é a mais inconformada da situação de miséria da família. Sonha ter a cama de couro do Seu Tomás da Bolandeira. Ela apresenta um pouco mais de habilidades que o marido, ela faz as contas da casa etc.

Capítulo 5 - "O menino mais novo".
O menino mais novo tem um único desejo que é ser vaqueiro como o pai. Forte, alto, domador de cavalos. Tenta imitar o pai, monta em um bode e cai, o irmão mais velho ri e a Baleia parece desaprovar a atitude.
Mesmo não conseguindo fazer como o pai, não se afasta do seu sonho, não é demovido dele.

Capítulo 6 - "O menino mais velho".
O menino mais velho quer conhecer o mundo, tem dificuldade em entender as palavras.
Ouve a vizinha Sinhá Terta falar "inferno", impressiona-se com a palavra e questiona a mãe do significado. A mãe tenta explicar como pode, dizendo ser um lugar negativo. O menino pergunta se ela conhece, se já foi ao inferno, ao que ela fica brava.
O menino mais velho aproxima-se do papagaio e de Baleia, identifica-se com eles.

Capítulo 7 - "Inverno".
A família se junta na casa pobre para se aquecer, Fabiano conta histórias com dificuldade pelo seu vocabulário pequeno, Baleia não entende e sai, ele se frustra por não conseguir contar suas histórias 

Capítulo 8 - "Festa".
Família vai para a cidade no natal, pedem que Sinhá Terta faça roupas para eles usarem. Mas eles não estão acostumados com aquelas vestimentas, paletó, sapatos. Revela-ae a situação de inferioridade, vergonha, sensação de ridículo. Choque entre o mundo do sertão e o mundo da cidade, onde a família não se adapta, se sente intrusa.
Fabiano embebeda-se, lembra das cenas do espancamento. Depois, volta para a família.

Capítulo 9 - "Baleia".
Graciliano Ramos escreveu este capítulo primeiro, posteriormente, criou a história ao redor dele.
A Baleia é a personagem mais humanizada da família. Fixa hidrófoba, adoece, caem os pêlos, aparecem feridas pelo corpo.
Fabiano decide sacrificá-la. Porém, quando vai atirar nela, acaba errando e não mata na hora.


Ela começa a agonizar e mente dela. Ela sua, vê um mundo cheio de oreás, os msninos gordos, Dabisno que lhe acariacia, um delírio de morte.
Baleia morre.

Capítulo 10 - "Contas".
Fabiano pega o dinheiro com Sinhá Vitória para fazer o acerto com o patrão, mas as contas que ela faz sempre recebe menos.
Fabiano fica irritado com o patrão, que diz que vai mandá-lo embora. O vaqueiro humilha-se para não perder o trabalho.
Esse é um movimento repetido de Fabiano: revolta e resignação, pede desculpas, assume o "erro".
O patrão exerce um domínio intelectual sobre Fabiano ao falar em juros. Como Fabiano não entende, fica sem agir ou defender-se.

Capítulo 11 - "Soldado Amarelo".
Fabiano reencontra o Soldado Amarelo na caatinga um ano após o ocorrido entre eles.
Fabiano pretende vingar-se, pois não tinha ninguém. Entretanto a farda do Soldado intimida Fabiano, que desiste da vingança (opressão institucional da autoridade).
O Soldado pergunta o caminho  de volta para a cidade, Fabiano responde e nada mais faz.

Capítulo 12 - "O mundo coberto de penas": prenúncio de nova seca, as aves de arribação estão migrando, sinal de que a seca será severa.
Fabiano e Sinhá Vitória, ao entender a previsão, sem pronunciar palavras, pegam suas coisas e começam a fugir da seca, como no primeiro capítulo.

Capítulo 13 - "A fuga".
Fabiano ganha cada vez menos, a família decide fugir da fazenda. Nutrem esperança de estudos dos meninos, Sinhá Vitória sonha com a cama novamente.
O sertão vai continuar mandando para cidade homens fortes, brutos como Fabiano.

Características da obra

- Estilo conciso e linguagem seca, sem diálogos, para descrever o lugar seco, as personagens secas.

- Tema da incomunicabilidade entre as personagens que não são capazes de verbalizar, expressar o pensamento. Comunicam-se por onomatopeias, exclamações, resmungos e gestos. O papagaio que reproduz a voz humana não produz palavras, só os grunhidos escaços da família e latidos de Baleia.

- Sondagem psicológica: discurso indireto livre, fala da personagem confunde-se com a do narrador, que empresta sua linguaguem para esses seres que não a possuem.

- Opressão x resignação: oprimidos de um lado (sertanejo) e opressores de outro (sistema de dominância cultural, intelectual, financeira, social) e Fabiando resignando-se quanto ao Soldado Amarelo, ao dono da fazenda, ao fiscal da Prefeitura que cobra impostos.

- Zoomorfização x Humanização: personagens humanas são aproximadas aos animais, são zoomorfizadas, enquanto a Baleia é antromorfizada, apresenta humanização que falta a familía, tem nome ao contrário dos meninos. Sonha com um mundo melhor, sonha mais complexo do que o da Sinhá Vitória.
Privação humana do elementar e básico para a sobrevivência, subsistência, vidas ficam totalmente secas (de alimento, de saúde, seca de moradia, seca de segurança, secas de sonhos). Degeneração do humano. Humanos que se distinguem dos animais pela inteligência passam a agir como animais desumanizados. Os sonhos da Baleia são sonhos pertinentes à humanidade, sonhos das pessoas são desejos mínimos, secos, como a vida deles.

- A linguagem que é recurso do opressor sobre a família oprimida é a mesma que confere algum "status" a eles ao intitular cada capítulo com o "nome" de cada um dos membros. Natureza dúplice: se por um lado é ferramento do opressor, por outro, ao menos literariamente, dá alguma dignidade, alguma propriedade, alguma importância humana, relevante às personagens

Ao final, resta uma esperança de que os meninos possam estudar e ter uma vida menos sofrida.

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