domingo, 2 de fevereiro de 2020

"INGRID VAI PARA O OESTE", filme de 2017



"Ingrid vai para o Oeste", original "Ingrid goes West", lançado em 2017, é uma produção cinematográfica atualizadíssima, que trata das novas relações intersubjetivas que as redes sociais propiciam.

Ingrid é uma adolescente que segue uma instagramer famosa, Taylor. Nutre uma obcessão pela webcelebridade.

Muda-se para Los Angeles para se aproximar da "influencer".

Acompanha toda a vida da moça, comenta suas fotos, sempre tentando aproximar-se da garota que admira.

No mundo das redes sociais, Ingrid é considerada uma "stalker", ou seja, pessoa que faz uma espécie de perseguição virtual da pessoa por meio das redes sociais, buscando todas as informações possíveis sobre ela.

O filme permite refletir e questionar as relações contemporâneas que a Internet trouxe. São novos formatos de vínculos, ligações humanas, qur produzem uma maneira específica de alteridade, do modo de lidar com o outro.

A exposição da vida particular. A mecessidade de validação, de auto-afirmação e até um narcisismo são evidentes nesses novos moldes de comunicação interpessoal.

O valor da experiência, do vivido, da realidade, vem sendo substituído por construções propositais, a gosto de que as faz. É a consolidação do faz-de-conta, pelo menos diante da visão do outro, de como se quer ser visto - e aplaudido, e seguido, e imitado. A geração dos influenciadores digitais.

O parecer ser/estar é o que importa, em detrimento do ser/estar em si.

A tecnologia permite que se crie a proposta que se pretender, desde um corpo físico esculpido por programas digitais, lugares sedutores, viagens, e a vida fantasiosa que quiser inventar.

O que não é exibido é como se não fosse vivido. Este o lema das redes sociais.

Voltando ao enredo, Ingrid não vive a sua própria vida, mas seguindo a sombra da vida se sua ídola.

Há uma renúncia da sua individualidade para colocar-se - ou tentar - na posição da vida alheia. Recusa identitária, eu diria. Transtorno de personalidade. Negação da própria em perseguição de outra, que nunca será alcançada, por razões lógicas.

O surgimento de patologias psicológicas decorrentes do uso de redes sociais.

Por outro lado, as webcelebridades vendendo a privacidade, mas não seria um direito indisponível, inalienável?

Disponibilizando comercialmente um modelo de vida, o qual, dificilmente, corresponde à realidade da pessoa. Venda de modelos inviáveis, simulados e cruéis, muitas vezes. Propagação do falso, do sinulacro como real.

A que ponto os direitos da personalidade - privacidade, intimidade, imagem etc. - são negociáveis, possuem valor mercantil?

O preço vale o valor?

Particularmente, nunca o anonimato e a privacidade tiveram, por mais contraditório que pareça, tanto valor.

O final do filme é compatível com os desvirtuamentos sociais, morais, psicológicos: alta instabilidade emocional, formação da personalidade muito comprometida, vazio existencial, tentativa de suicídio.

A liquidez das relações humanas, também, é presente na obra. Sugiro leitura de Zygmund Balmann.

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