domingo, 14 de abril de 2019

LUIZ FELIPE PONDÉ - filósofo


"Esse tema da solidão está virando uma epidemia contemporânea, claro com uma metáfora, né, se não seria contagiosa, pra ser epidemia precisa ser contagiosa, mas é...
Algum tempo atrás, saiu na mídia que o Reino Unido estava preocupado querendo criar, assim, uma espécie de secretaria dentro do bem estar social que desse conta da solidão.
Eu acho que em alguma medida dá pra dizer que a solidão é uma epidemia contemporânea. Apesar de que essas ideias de que implicam num certo comparativo, elas são sempre perigosas, né, porque a gente não sabe se uma pessoa no século XIV se sentia só ou qual era o número de pessoas que se sentiam sozinhas ou a gente não sabe até que ponto, sei lá, uma pessoa que vivia com a família de 15 pessoas, também, não estava se sentindo sozinha dentro do ambiente familiar de 15 pessoas. Então não vamos complicar muito a questão.
Se nós entendermos solidão numa forma mais simples, no sentido de pessoas que vivem sozinhas, tá, que é essa a questão que está em jogo aqui, é assim que eu entendi a questão e é assim que é compreendida quando se levanta o debate de o que fazer com a solidão no mundo contemporâneo do século XXI, né, é assim que se entende, não é no sentido, digamos assim, mais sofisticado ou que seja mais complexo.
Entäo compreendendo solidão como viver sozinho, sem grandes vínculos, ou tendo-os perdido, certo... e portanto você vive só sem vínculos como marido, mulher, filhos, pais e mães ou alguma coisa assim, há, sim, me parece, uma tendência à solidão.
Essa tendência se dá, primeiro, por conta de uma diminuição do núcleo familiar. Quando a gente pensa em famílias mais antigas, né, que você passa uma, duas gerações pra trás, é provável que você descubra que você tinha, na sua família, mais filhos, né, você tinha primos e tios e tias, né, e todo mundo vivia mais ou menos junto, porque não tinha muito essa coisa... por exemplo, até hoje, tem uma pesquisa muito interessante nos EUA que  compara jovens das costas, né, leste, oeste e os jovens do centro e a pesquisa mostra que, por exemplo, as meninas do centro tendem a ser, do centro dos EUA, tendem a ser mães mais jovens, e terem mais filhos, e casarem jovens, e as irmãs também, e as mães, e as sogras, e as cunhadas, está vendo, você tem uma rede de pessoas, é isso que eu queria dizer.
Essa rede de pessoas que tende a existir em ambientes mais conservadores, não estou agregando nenhum juízo de valor aqui a essa ideia, mas sim a ambientes conservadores no sentido que são mais rurais, cidades menores, onde você tem menos mulheres no mercado de trabalho, por exemplo, ou mesmo os meninos tendem a seguir um número menor de opções de trabalho é... aí você tende a ter famílias mais volumosas, com maiores relações, então você tem aquilo que alguns chamavam de 'rede de solidariedade feninina informal', que era essa coisa de várias mulheres criando filhos delas todas, porque eram todas irmãs, cunhadas, sogras, mães e tal.
Quando você começa a ter uma diminuição desse núcleo familiar, você já tem uma... uma tendência maior de solidão, certo?!
Quando você tem, outro fator, quando você tem uma maior longevidade, você tem agora uma tendência a extensão da vida, com qualidade biológica de vida, né, você é... acaba também tendo maior presença da solidão. Porque se de um lado as famílias tendem a diminuir e as mulheres que costumavam cuidar dos pais idosos, quero dizer, ou traziam os pais pra morar em casa, né, elas têm vida profissional, então, hoje, você tem uma tendência terceirização dos idosos, assim como você tem uma tendência assim como essa terceirização dos filhos, uma diminuição do número de filhos, justamente, por conta do crescimento profissional, principalmente da mulher, então o que que acontece? O que ontece que você tem uma atomização da famílias, assim, a família vai diminuir de tamanho, as pessoas de dentro da família seguem o seu caminho, na medida que os filhos vão crescendo, número menor de filhos, o homem e a mulher seguem seu caminho profissional, então os idosos, eles são meio que  expelidos. Ou eles são pessoas autônomas, criaram patrimônio, tem uma vida signficativa, trabalham, ou eles vão para casa de repouso, né?!
Então você tem uma... uma epidemia de solidão entre idosos, por exemplo, são pessoas que não têm uma vida mais ativa profissionalmente, e a gente sabe que o principal eixo do significado da vida, hoje, é o trabalho, são pessoas que acabam vivendo sozinhas, o parceiro morre, né, ou alllmas delas se separaram ao longo do processo, e elas são sozinhas e elas, também, sofrem de solidão.
E o último exemplo, que me parece que reforça a ideia de que a solidão seja uma epidemia contemporânea eh obfsto de, entre os jovens, você ter uma, uma certa, digamos assim, piora de jovens que investem em vida afetiva ds longa duração. 
Então você, também, tem uma tendência de solidão entre os jovens, que é, você, às vezes? Tem trabalho, diversão, sexo e tal, mas você não tem... você tem uma certa resistência a vínculos de longa e médis duração, no sentido que esses membros seriam muito compromissados, muito difíceis, né, e que muitos jovens estão mais interessados em investir na carreira e em cachorros que em relacionamentos mais duradouros.
Então acho que tem aí, no mínimo, esses três fatores que nos levam a concluir de que, talvez, exista, mesmo, uma tendência à solidão como epidemua contemporânea,"
("A solidão está virando uma epidemia contemporânea?", Luiz Felipe Pondé, Canal YouTube, publicado em 11/04/19)


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